Por missão ou por castigo?
Já lá dizia Fernando Pessoa que só se nasce em Portugal por Missão ou por Castigo.
Mas qual?
Missão? Mas que missão?
Castigo? Essa é fácil…
A verdadeira questão que se coloca nos tempos que correm é: será que controlamos a razão do nosso nascimento?
E como é que reagimos a isso?
Será que aceitamos e seguimos em frente ou nunca integramos esse facto dentro de nós e ficamos sempre presos a este lastro?
A família que tivemos, a infância, a educação, os empregos bons ou maus que nos apareceram, será que são missão ou será que são castigo?
Será que importa?
Será que perder tempo a pensar em tudo isto trará algum valor acrescentado às nossas vidas?
Será que isso nos dará alguma falsa sensação de controlo, o podermos refilar e questionar incansavelmente tudo isto?
Um dos maiores erros que tive na minha vida foi tentar alterar o passado e mudar o presente.
Alterar o passado, embora seja uma forma pouco esperta de o fazer (e enquanto lê este artigo poderá estar a franzir o sobrolho) … fazemo-lo todos os dias.
Quando nos queixamos, quando criticamos, ao fim ao cabo quando não aceitamos que o melhor que o passado tem é que já passou.
No entanto, a razão pela qual as diversas circunstâncias da vida nos são presenteadas nem sempre é aparente à luz do presente.
Muitas vezes só no futuro, quando olhamos para trás (e tal e qual como quando brincávamos aos desenhos por pontos, em que íamos ligando os número e a imagem ia aparecendo) é que algumas coisas começam a fazer sentido.
Isto se o quisermos, de facto, aceitar.
Mudar o presente já parece mais lógico, embora, se pensarmos bem, esteja na mesma onda do passado.
Quer um exemplo?
Pode mudar…
… a crise?
… os mercados?
… as circunstâncias internacionais?
… o seu chefe?
… os seus colegas?
… a forma como a sua empresa trabalha?
Se reparar, em alguns dos casos a sua cabeça começou a abanar e terá pensado: “Mas algumas das coisas eu consigo mudar!”
Sim, de facto algumas das coisas à nossa volta podem ser influenciadas. Mas será que podem efectivamente ser mudadas?
Por exemplo, uma das maiores ilusões que nós temos é que somos agentes da mudança dos outros…
Quando muito somos catalisadores, a verdadeira mudança em algo que é externo a nós só pertence a esse mesmo algo externo.
Agora pensemos de outra forma: o que é que está nas nossas mãos mudar?
O sistema ou a forma como reagimos ao sistema?
Se pensar bem, não podemos mudar os outros, podemos sim mudar a forma como reagimos e interagimos com eles e esperar que através da nossa mudança os outros possam também tirar partido disso e, se quiserem, mudar também.
Hoje em dia nas empresas esta questão é pertinente, as pessoas sentem-se numa camisa-de-forças e acham que não conseguem ter voz activa para promover a mudança.
O problema é que neste momento não é uma questão de voz.
É uma questão de acção!
É uma questão de cada um, à sua maneira, poder agir de forma diferente e promover a mudança no todo.
Por muito pequena que seja a sua função na empresa, a sua mudança poderá influenciar o todo.
Quer um exemplo?
Imagine uma pessoa responsável pela limpeza das instalações.
À partida, nada de novo. Poderá pensar: “Pois, se ela não limpar, as pessoas não se sentirão tão bem no local de trabalho, isso pode influenciar a forma como falam com os clientes e em última análise levar a perda de negócio.”
Ok, foi um esticar do raciocínio feito um pouco à força. Mas vou dar-lhe um caso concreto.
Num concessionário automóvel que visitei há algum tempo, notei que havia flores em todas as secretárias, nada de muito vistoso, mas pequenos arranjos que davam um ar bastante alegre ao ambiente.
Estava à espera para realizar uma sessão de coaching executivo a um dos quadros de direcção e no final perguntei:
“As flores fazem parte da Vossa estratégia para combater o desânimo que grassa neste mercado?”
A resposta foi surpreendente.
“Não. Trata-se da iniciativa de uma das senhoras da limpeza, que todos os dias traz flores novas para colocar nas mesas das pessoas. Onde as vai buscar, não sei, mas já nos habituámos a dá um ar mais alegre ao espaço.”
A questão é: fazia parte das funções desta pessoa colocar as flores? Pediu orçamento a alguém para o fazer?
Então o que é que a fez fazer isto?
Missão ou castigo?
Esta semana pare um pouco para pensar:
“O que é que está nas minhas mãos fazer para poder mudar a forma como estou a reagir ao que se passa à minha volta?”