O que fazer quando os sonhos acabam?
Frase polémica? Ou talvez não?
Será que os sonhos acabam algum dia?
Uma das coisas que me tem preocupado nos últimos tempos, dado que tenho passado algum tempo em processos de coaching executivo, é precisamente esta questão.
Talvez devido à fase da vida que atravesso (não, os meus sonhos não se acabaram, apenas se transformaram) ou a alguma sincronia, para quem acredita, têm chegado até mim diversas pessoas com um perfil muito similar.
Executivo de topo, bem na vida, bom ordenado, boas regalias, empresa estável, que, já tendo atingido a sua quota-parte de sucesso, chega a um ponto na vida em que “parece” que os seus sonhos já acabaram.
Todos estamos familiarizados com a crise dos 40 anos?
Aquele momento na vida em que muitas coisas deixam de fazer sentido e que nos sentimos um pouco à deriva? O que era antes já não é e o que vai ser ainda não está sequer no limiar do nosso consciente?
Existe um ponto um pouco antes desta idade, mais ou menos nos 38/39, em que acontece um fenómeno estranho.
Muitas das vezes o carro, a casa, a posição e o dinheiro parecem de um momento para o outro relevados para segundo plano. Parece que andamos uma vida a trabalhar para isto e agora…
Normalmente nestas fases da vida dão-se grandes mudanças, de emprego, de família, é por vezes aqui que acontecem os divórcios mais inesperados, de pais, enfim, de tudo um pouco.
Muitas das pessoas que me têm procurado nos últimos tempos estão precisamente nesta fase. Pessoas que toda uma vida tiveram sucesso de repente perdem o pé.
A questão principal delas é muitas vezes:
“Como é que eu encontro o meu rumo novamente?”
São momentos de “limpeza”. O que noto frequentemente é que é necessário limpar o que está na mesa para poder procurar novos caminhos.
Muitas destas pessoas têm nestas situações um lastro muito grande. O seu conforto, o seu nível de vida, enfim, tudo o que conseguiram mantém-nos no sítio, embora numa posição um pouco insatisfeita.
Mas será que temos de abdicar de tudo para lá chegar?
No nosso entender, não. Nem provavelmente seria ecológico para as pessoas que de nós dependem e connosco convivem. O processo pode ser feito por aproximações sucessivas.
Aquilo que eu chamo:
“Ir à praia molhar o dedinho do pé…”
O foco aqui é: o que é que agora me vai fazer correr? Sendo que o que me fazia correr antes já não é válido ou pelo menos não me faz correr com a mesma energia que fazia antes…
Por vezes ajuda colocar a nós próprios estas questões:
– Ao olhar à minha volta, quais são as coisas que me atraem?
– Se eu tivesse de escolher uma palavra para descrever o que eu não sei que já sei qual seria?
– Se eu estivesse no futuro daqui a 10 anos a olhar para o presente como é que eu gostava de recordar estes anos que passaram?
Estas são apenas três das questões que nos podem fazer pensar, muitas mais haverá.
Sem termos certezas, podemos apenas talvez vislumbrar um pouco do caminho.
Provavelmente o nosso percurso a partir daqui estará muito mais ligado à emoção e não tanto à razão e aquilo que queremos atingir estará mais virado para fora do que para dentro de nós.
De resto, é viver o caminho um dia de cada vez, sabendo que quando menos se espera a próxima pedra irá aparecer e depois a outra e a outra, até que…
Esta semana pare um pouco para pensar:
“Quando é que agora seria uma boa altura para deixar de adiar o olhar a sério para a minha vida?”