Tem o luxo de poder desistir?
Um das temáticas que como formador, líder, vendedor, autor e sei lá que mais, me apaixona é a motivação.
Muitas das nossas empresas estão montadas em cima de estratégias de motivação baseadas na cenoura ou no chicote.
Sabe-se hoje em dia que isso já não tem o mesmo grau de eficácia na motivação das pessoas que nos rodeiam, mas mesmo assim ainda permeia muitas das culturas empresariais em Portugal e no mundo.
Pensemos na teoria da cenoura e do chicote, que diz que eu vou correr porque quero alcançar algo ou vou correr porque não quero ter um determinado castigo.
À partida não há nada de errado com esta teoria, mas se começarmos a entrar um pouco mais fundo começamos a descobrir algumas falhas.
Aquela em que gostava de me focar hoje tem a ver com qual das partes do processo eu me identifico mais.
Com a cenoura ou com o chicote?
Colocando-lhe uma questão: a sociedade vê com melhores olhos quem se motiva pela cenoura ou pelo chicote?
Ou seja, são mais bem vistas as pessoas que se motivam porque querem atingir algo, uma meta, um objectivo, um bem material, um galardão, ou as que se motivam porque sabem que se não o fizerem vão ter um castigo?
Se perguntarmos às pessoas à nossa volta, provavelmente irão dizer-nos que preferem as primeiras, ou seja, as das cenouras.
Ora aqui está um dos problemas desta teoria.
Em 2003 perdi quase tudo.
Estava num cargo de Director Geral de uma empresa com capital espanhol, que tinha aberto de raiz em Portugal. Os primeiros dois anos foram fantásticos e rapidamente éramos o número três de mercado em termos de vendas. O investidor espanhol, como devem imaginar, estava felicíssimo.
No terceiro ano de actividade a área de tecnologia em Portugal começou a atravessar uma grave crise. E a nossa empresa não foi excepção à regra, tendo sido levada na onda de maus resultados que se verificaram à época.
Nesse ano, o quarto maior concorrente foi a Espanha e de uma forma inteligente fez uma oferta de compra, adquirindo a maioria do capital das operações em Portugal. Digo de uma forma inteligente, pois permitiu-lhe à época ficar em número dois no mercado.
Ora, uma bela segunda-feira os Espanhóis chegaram cá e disseram:
“Mira José que la empresa ha sido vendida.”
E de um momento para o outro eu fiquei sem pé, sem emprego e sem grandes perspectivas, pois com o mercado em literal convulsão empregos de Direcção Geral era algo que não abundava.
Hoje em dia, dou graças a Deus por este episódio, pois permitiu-me reestruturar a minha vida, reinventar-me e criar um conjunto de projectos de sucesso em Portugal, de raiz e sem investidores.
Mas na altura, como devem imaginar, não foi fácil, como não está a ser para muitos profissionais à nossa volta hoje em dia.
Agora vamos a ver.
Acham que naquela época o que me manteve motivado foi a cenoura?
Ou seja, a ideia de que um dia ia ter projectos de sucesso como a Ideias e Desafios e a Salto Quântico?
Claro que não!
Era apenas uma frase que se mantinha diariamente na minha cabeça:
“Zé, não tens o luxo de poder desistir…”
Ou seja, era precisamente o “chicote” das consequências que teria caso baixasse os braços.
Portanto, tanto é válida a cenoura como o chicote, desde que eu saiba qual deles me faz mover e os utilize adequadamente.
Esta semana pare um pouco para pensar:
“O que é que, de facto, me faz correr? A cenoura ou o chicote?”